segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Bat for Eternity


Segundo uma equipa de cientistas da Harvard Medical School , nos Estados Unidos, o segredo para a uma maior longevidade pode-se encontrar no estudo mais aprofundado do eixo hormona do crescimento/ IGF1, sugerindo que mudanças chave nos genes associados a esse eixo podem conter o segredo para uma esperança de vida mais longa. Estas conclusões foram despoletadas por o estudo feito com uma espécie de morcegos (Myotis brandti) que permitiu encontrar um dos membros dessa espécie ainda vivo 41 anos depois do início desse estudo, quando o tempo médio de vida de um morcego é cerca de 20 anos.
Claro que existem outros factores que podem contribuir para aumento da esperança média de vida nesta espécie, nomeadamente a alimentação, o facto de hibernarem ou o seu pequeno tamanho (podem pesar entre 4 a 8 g). No entanto estudos feitos na University of Texas Health Science, no Texas,  já permitiram observar um aumento de 50 % da esperança média de vida de ratos de laboratório, em virtude de alterações no referido eixo da hormona do crescimento, apontado deste modo para a importância de um estudo, a nível molecular, desse mesmo eixo.

Neste caso parece que as estórias sobre vampiros, que todos nós sabemos se transformam em morcegos, vêm confirmar as suspeitas de que afinal sempre são eles que possuem o segredo, senão da vida eterna, pelo menos de uma vida bem mais longa.  E não vai ser necessário andarem para aí às dentadinhas aos pescoços das pessoas, Bela Lugosi style, a não ser por outras razões mais eróticas.ontrar no estudo do chamado eixoais longa. eixo podem conter o segredo da longevidade numa espncontrar no estudo do chamado eixo

domingo, 20 de outubro de 2013

These Woods Are Made For Walking


Carla Maciel e Gonçalo Waddington em Macbain de Cerardjan Rijnders

Macbain busca inspiração dramática em Macbeth de William Shakespeare e numa biografia de Kurt Cobain, Heavier than  Heaven, com especial enfoque sobre a relação do vocalista dos Nirvana com Courtney Love, na tentativa de desenhar um paralelo entre estas duas personagens reais e as duas fictícias imaginadas pelo grande dramaturgo inglês, o nobre escocês Macbeth e a sua mulher Lady Macbeth.
Existe um terceiro paralelismo com o facto de os papéis originais criados para esta peça, escrita por Cerardjan Rijnders, serem interpretados por dois atores que formam um casal na vida real. O que vem descrito anteriormente seria a receita perfeita para o desastre nas mãos de qualquer outro dramaturgo mas Rijnders consegue o impossível e escreve uma peça sobre o que é uma relação a dois que se sustenta na violência física e psicológica entre as personagens, que consegue transportar os signos mais marcantes vividos pelas quatro personagens em tempos e estórias diferentes e dar-lhes um significado abstrato que nos permite fazer uma leitura intemporal desses símbolos. Essa transmutação só é possível através das palavras, que são originais e roubadas a Shakespeare ou Kurt Cobain, mas que devem muito  ao trabalho dos atores que dão corpo a momentos muito intensos de trabalho dramatúrgico. Os atores são Gonçalo Waddignton e Carla Maciel, e se a qualidade do trabalho do primeiro é amplamente reconhecida por quase todos nós, a revelação maior é sem dúvida o trabalho da atriz, pela qualidade intrínseca do trabalho que ela desenvolve e que se encontra quase sempre perto da perfeição, mas também porque esta personagem é a que em termos dramáticos se sustenta melhor. Não consigo deixar de pensar no facto de Courtney Love ter sobrevivido ao suicídio de Cobain e de na peça de Shakespeare ter sido Lady Macbeth quem se suicida, esta troca de papéis parece deixar suspensa a interrogação sobre se quem morreu na realidade é quem se suicidou ou quem escolheu ainda estar vivo.   

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Literatura Heavy




Cá pelo burgo não há muita tradição do ensaio crítico ou da crítica profunda e suportada num enciclopédico conhecimento do mundo literário e não só. Um tipo de crítica que deve pouco à erudição académica porque deriva, quase sempre, de um espírito demasiado rebelde e inquisidor.  Os anglo-saxónicos possuem muitos ilustres exemplos deste tipo de crítica e neste livro do Rogério Casanova – Trabalhos de casa 2008-2012) é-lhes prestada a devida homenagem, quer seja nomeando-os (James Wood, Gore Vidal ou V.S. Pritchett) quer seja usurpando o seu estilo.  A escrita copy-cat pode ser muito interessante, ainda me lembro das críticas da Inês Pedrosa no JL em que ela fazia a crítica ao estilo do autor criticado, do melhor que ela escreveu até à data.

No caso do Rogério Casanova há mais cat que copy porque é uma escrita sly, felina e na maioria da vezes muito certeira e espirituosa, witty para o ingleses. Eu confesso-me um entusiasta leitor das críticas, ou textos literários, do Casanova, quase desde quando ele apareceu, e devo ter tido muita sorte porque só li textos inspirados e inspiradores, bem escritos e de um fino verniz irónico e intelectual muito ao meu gosto. Por essa razão quando me apercebi da saída deste livro fui logo a correr comprá-lo na esperança de me deleitar nas leituras repetidas e nas outras que sabia ter perdido. O livro acabou por estar à altura das minhas expectativas e para mim a única “desilusão” foi o capítulo dedicado aos enciclopedistas (Pynchon e David Foster Wallace) os quais não tenho paciência para ler e muito menos para para ler sobre as suas leituras. De resto lá estava o Casanova das crónicas, ou ensaios, que lido assim de seguida é mais desmontável no sentido estrutural do termo, mas que apesar disso não deixa de nos dar prazer e ser uma lição viva sobre o que é escrever bem sobre livros e literatura. Como ele há poucos “críticos” no ativo, eu arriscava mesmo a dizer nenhum, e na minha humilde opinião deveria haver mais. Não sei se ele é “amigo” do Francisco José Viegas porque é na Ler que ele escreve mais regularmente mas o certo é que até isso passa a ser secundário perante o talento literário desde jovem ensaísta nascido em 1980 e sobre o qual se sabe quase tanto como sobre o Herberto Hélder.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Começar de novo





Existem escritores que passam uma vida inteira a tentar ocultar quem os inspirou, diluindo na escrita essas múltiplas inspirações para que se possam transformar na voz única que é uma marca reconhecível do genuíno autor literário. Nos livros de Ana Teresa Pereira acontece precisamente o contrário, ela transforma todas as suas referências em recortes bem definidos, nomeia-os e exorciza a sua influência deixando-os espreitar as suas palavras e textos, e desse modo conta-nos uma estória ou, suspeito eu, o fragmento da mesma estória, repetida até ao infinito. Uma estória que é dela mas que a autora vê projetada nas múltiplas referências cinéfilas, que vão desde o Noir a Hitchcock, de George Cukor a Tarkovski ou Billy Wilder, nas referências literárias saturadas da poesia e anjos de Rilke e das personagens de Henry James, mas também do teatro de Ibsen ou Tchekov, dos quadros de Rothko ou Turner, da paisagem urbana de Londres ou da mais inóspita e selvagem associada ao Paul do Mar, também surgem referências a contos policiais e nesta atmosfera de ambientes tão contrastantes nasce a voz de alguém muito original, de uma escrita que estando saturada dos outros acaba por se revelar original e única. De um só fôlego evoca um fogo literário que assume a sua perenidade mas que cumpre sempre uma mais ambiciosa função, a de materializar na mente do leitor emoções e sensações que são tudo menos perenes, e que se fixam em nós como se fixaram na sensibilidade literária da escritora. De um sopro surge aquilo que nos lança para a misteriosa dimensão da comunicação direta de emoções e pensamentos por via da palavra impressa na página de um livro, coisa rara e de génio.
  


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não há como deixar de venerar um Hostal em Bilbao onde existe uma biblioteca no corredor com 
livros desta qualidade:





Podia documentar todas as prateleiras e não deixaria envergonhado o mais exigente bibliófilo.  

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

(Middle Class) America Goes To Prison

Orange is the new black é a nova série sensação, dos criadores de Weeds, e que se encontra à altura do alarido que se gerou à sua volta.
A minha curiosidade foi aguçada primeiro por uma música da Regina Spektor, You’ ve got time, composta propositadamente para acompanhar o genérico da série, depois resolvi ver um episódio e não consegui ficar pelo primeiro acabando por, compulsivamente, visionar os doze seguintes que completam a 1.ª série.

A história central diz respeito a uma WASP, menos Yuppie e mais Organic, que vai parar à prisão quase na véspera do seu casamento com um jornalista judeu americano, Larry Bloom (Jason Biggs), que formam um núcleo quase cliché do que é o retrato da América mais sofisticada e pensante. Apesar de a série poder ser acusada se usar e abusar dos clichés sociais americanos, onde podemos incluir os negros, os hispânicos e outros grupos de emigrantes, consegue sempre ir mais além não se deixando acomodar pelo que seria óbvio e expectável.


A branca e loirinha Piper Chapman (Taylor Schilling) vai então parar à prisão de Leitchfiled, no estado de Nova York, condenada por um crime cometido há uns anos quando se viu envolvida, através da namorada da altura Alex Vause (Laura Prepon), numa rede de tráfico de droga. Não é minha intensão resumir aqui os 13 episódios mas apenas alertar para o facto de que vale muito a pena ver esta série, que escapa à classificação espartilhada da comédia ou drama, embora de acordo com as possíveis nomeações para os Emmy, a série tendesse a ser classificada mais como comédia. A série foi, no entanto, ignorada nas nomeações deste ano mas isso poderá estar relacionado com o facto de ser uma produção toda feita a pensar nos utilizadores da Netflix, cujo impacto ainda se está a fazer sentir no mercado audiovisual, embora isso não seja verdade para a série House of Cards.


Controvérsias e nomeações à parte fica a certeza de que, apesar de algumas fragilidades dramáticas principalmente associadas às personagens masculinas, vale a pena investir numa série que cita Pablo Neruda, coloca personagens a dramatizar Shakespeare, refere os The Smiths, aflora o tema de Moby Dick, onde um(a) inmate ouve a ópera Eugene Onegin ou outro se refere a Christopher Hitchens. O resto?  Vejam e tirem as vossas conclusões.