sexta-feira, 7 de julho de 2017


NOS Dead Or Alive


Na imprensa é-nos dito que todos adoramos festivais de verão, e no inverno do nosso descontentamento até nos levam a comprar, ainda em época natalícia, o bilhete para esse sol que esperamos venha a ser a chave para uma garantida diversão. E ao preço que nos custa, mesmo que depois não nos divirtamos, temos que fingir que sim.
Eu também gosto de festivais, mas gosto daqueles festivais que respeitam os espetadores, que não vendem bilhetes para além capacidade razoável do espaço onde vão decorrer, que têm o cuidado de colocar o palco principal num local em que todos o possam ver e não num local plano, pois se até já os gregos, na antiga Grécia, sabiam da existência do anfiteatro, esse formato também não será uma novidade para os organizadores destes festivais.
Neste momento está a decorrer um festival cujo cartaz deste ano é um engodo baseado no esgotado cartaz do ano passado. Se no ano passado tivemos Arcade Fire, Radiohead, Grimes, Father John Misty, Courtney Barnnet, Hot Chip, Tame Impala, Foals, Pixies, etc este ano ficámos pelos The Kills, que aliás estiveram no Coliseu há menos de um ano, ou os dinossauros Depeche Mode e mais um outro ou outro doce musical espalhado pelo medíocre cartaz. E o cartaz só é medíocre porque os organizadores sabiam que, fizessem o que fizessem, iam vender os bilhetes todos e assim sendo para quê o esforço de tentar fazer um bom cartaz, fica-se por onde ficaram e continua-se a usar o slogan de que é o melhor cartaz de sempre, e alguns de nós até pode ser que se deixem convencer disso.
Eu estive presente na origem deste festival, antes mesmo de se chamar OptimusAlive, quando ainda se chamava LisbonSoundz, e aí até não correu mal. Era um espaço pequeno, com a quantidade certa de pessoas, um palco bem visível e um cartaz razoável. Mas de repente transformou-se neste monstro de fazer dinheiro, a música passou para segundo plano e com isso também as pessoas que gostam de ir a festivais pela música.
O ano passado, no último dia do festival a capacidade do recinto, estava obviamente ultrapassada, e qualquer pessoa que quisesse movimentar-se entre os vários palcos teria serias dificuldades em o fazer, estava tanta gente na zona do palco principal que vê-lo à distância nítida de um ecrã de televisão gigante era a única alternativa, mas para isso talvez fosse mais inteligente ficar por casa, certo?
Estes organizadores, ávidos de dinheiro, estão a contribuir para que quem gosta de festivais, pela música, se afaste cada vez mais deles e para além disso como controlam as outras salas de espetáculo acabam por não trazer concertos individuais, são mais arriscados economicamente e dão mais trabalho a organizar, e nós ficamos condenados a um deprimente deserto musical. A Aula Magna é um exemplo de uma sala que praticamente não tem atividade musical digna de nota há meses a fio e o coliseu é uma sombra do que já foi.
Por isso Sr Covões volte lá à sua humilde tarefa de organizar bons concertos musicais, em salas decentes como as que herdou da família, e deixe-se de festivais mortos-vivos que de Alive já só têm o nome.